Confira como um pequeno país na fronteira com a Rússia transformou sua sociedade e hoje possui 99% dos serviços governamentais realizados de forma digital.
Para um país pequeno, a Estônia têm chamado a atenção no cenário global. A nação báltica de apenas 1,3 milhão de pessoas atraiu a atenção de líderes mundiais, acadêmicos e investidores de risco, graças à sua sociedade digital de alta tecnologia.
Os números falam por si só: os impostos são declarados de forma online em menos de 5 minutos, 99% dos serviços públicos da Estônia estão disponíveis na web 24 horas por dia e quase um terço dos cidadãos votam pela Internet.
“Você pode dizer que o governo estoniano oferece o que normalmente apenas o setor privado pode oferecer às pessoas”.
Kersti Kaljulaid, presidente da Estônia em entrevista à CNBC.
Os passos para digitalização
À medida que os governos de todo o mundo enfrentam desafios da tecnologia, como inteligência artificial e ameaças cibernéticas, a história da Estônia serve de exemplo ao se observar algumas etapas para se construir uma sociedade digital.
- 1991: Estônia conquista a independência da União Soviética e o país inicia uma série de reformas rápidas para modernizar a economia. Desde o início, adotou uma abordagem digital.
“A Estônia era um país relativamente pobre”, disse Kaljulaid, “nosso setor público, nosso governo e nossos funcionários públicos queriam oferecer ao nosso povo serviços de boa qualidade. Fizemos isso imediatamente de forma digital porque era simplesmente mais barato e fácil”.
- 2000: O país vê a educação como um dos principais pilares onde deve-se investir em modernização. Com isso, neste ano a Estônia coloca computadores e fornece acesso à internet em todas as salas de aula.
- 2002: É lançado um sistema nacional de identificação de alta tecnologia. São desenvolvidos cartões de identificação físicos combinados com assinaturas digitais que os estonianos usam para realizar diversos serviços, como pagar impostos, votar, realizar serviços bancários online e acessar seus registros de assistência médica, entre outros.
“Os estonianos perceberam que, ao adotarem a Internet e tecnologia, os negócios e tudo o mais mudariam para lá”, disse Tobias Koch, gerente de envolvimento de negócios no showroom e-Estonia, um centro em Tallinn que apresenta as soluções digitais da Estônia. “Em vez de ter apenas um cartão de identificação offline, você precisa de algo que funcione de forma conectada”.
- 2007: O país sofre um ataque cibernético maciço que derruba a maior parte de sua infraestrutura digital. Após o ataque, a Estônia torna-se o lar do Centro de Excelência em Defesa Cibernética da OTAN, que realiza exercícios de defesa cibernética em larga escala. Com isso, para evitar maiores problemas com novos ataques, também é criado uma embaixada de dados em Luxemburgo, onde armazena cópias de todos os seus dados.
Logo após, oficiais do governo admitem que ser uma sociedade digital significa estar preparado para ameaças cibernéticas. Kaljulaid disse que a cibersegurança é essencial para todos os cidadãos.
- 2011: O Skype, o serviço de bate-papo por vídeo lançado na Estônia, é comprado pela Microsoft por 8,5 bilhões de dólares. O efeito psicológico causado na sociedade estoniana é extremamente positivo. Hoje, o governo se orgulha de abrigar mais unicórnios tecnológicos (empresas com avaliação de mercado em mais de 1 bilhão de dólares) per capita do que qualquer outro país no mundo.
Atualmente, seus unicórnios recentes incluem a empresa de pagamentos TransferWise e a concorrente do Uber, Taxify. Além do mais, também existem outras empresas atuam em áreas diversificadas, desde blockchain a alimentos orgânicos.
“O ambiente que eles criaram agora é muito amigável”, disse Gregory Lu, co-fundador da Natufia Labs, uma startup que desenvolveu uma máquina para cultivar produtos orgânicos indoor, “espero que eles continuem assim”.
- 2014: É lançado o programa e-Residency, outra importante característica da sociedade digital da Estônia. Ela permite que indivíduos iniciem negócios no país sem morar lá. O programa serve como plataforma para empresas que desejam fazer negócios na União Europeia e se beneficiar desse mercado único. Mais de 50.000 pessoas em todo o mundo se inscreveram para a e-Residency desde seu lançamento.
“As pessoas que têm negócios globais, têm um estilo de vida global, querem ser atendidas e querem ser os melhores nessa área”.
Taavi Kotka, um dos criadores do programa e-Residency, em entrevista à CNBC.
Novas iniciativas
- 2019: São estreitados laços entre o Brasil e a Estônia. Neste ano são organizadas delegação de grupos com representantes do Governo do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Professores da UNINOVE, membros da Associação Comercial e Industrial de Marília (SP) e outros membros do setor público-privado de outros municípios do estado de São Paulo. O objetivo é conhecer o processo de transformação digital ocorrido neste país visando sua utilização no Brasil, sobretudo nas áreas pública, empresarial e educacional.
- Futuro Próximo: A Estônia está estudando lançar um visto para “nômades digitais”, ou seja, funcionários que trabalham remotamente ao redor do mundo. O visto é um exemplo de parceria público-privada em trabalho entre o governo da Estônia e a Jobbatical, uma empresa de contratação internacional. Além disso, novas delegações brasileiras estão sendo organizadas para visitar o país.
“O que estamos fazendo com o visto nômade digital reflete realmente de que trata toda a nossa política de imigração”, disse Killu Vantsi, consultor jurídico de migração do Ministério do Interior da Estônia, em entrevista à CNBC. “Queremos atrair pessoas talentosas, empreendedores que sejam benéficos para nossa sociedade e economia”.
Karoli Hindriks, CEO da Jobbatical, disse que outros países devem seguir a liderança da Estônia ao enfrentarem o envelhecimento da população e a falta de trabalhadores qualificados.
“Os países que estão fechados e não estão pensando nisso, estou muito curioso para ver onde eles estarão em 10, 15 anos”, disse ela.
Conclusão
Assim sendo, esforços como o cartão de Identificação Digital, e-Residency, visto nômade digital, entre outros, são de extrema importância. O país, juntamente com as taxas de imposto favoráveis às empresas, também incentiva a cultura de startups na região.
Como resultado de toda essa trajetória de reformas importantes iniciadas em parceria com instituições públicas e privadas, hoje é possível entender por que hoje a Estônia é considerada o país mais digital do mundo.
Fonte: https://www.cnbc.com/2019/02/08/how-estonia-became-a-digital-society.html