A resposta coletiva da Estônia, com participação do governo e da comunidade tecnológica à crise do COVID-19, tem muito a nos ensinar, ainda mais agora.
A liderança em momentos de crise consiste em agir de forma inteligente e rápida em respostas às realidades que se alteram constantemente. A crise do coronavírus deixa pouco tempo para decisões.
A preparação realizada antes do desafio, como os protocolos relevantes, deve ser acompanhada de aprendizados e correções de curso conforme as condições e os dados se alteram.
O lendário comandante militar Prussiano do século XIX, Helmuth von Moltke, “O Velho”, é famoso por declarar “nenhum plano sobrevive em contato com o inimigo”. Ele afirmou que os comandantes podem somente elaborar detalhes no início de uma batalha. A partir de então, o papel de liderança é ajustar-se rapidamente, conforme a realidade se desenrola.
Moltke liderou por diretrizes, afirmando suas intenções ao aplicar ordens explícitas. Ele incentivou a interpretação, desde que as decisões se encaixem na missão geral, cascateando a autoridade para os comandantes da menor escalão conforme mais próximos de cada situação.
As crises necessitam desse tipo de liderança, e a Estônia está agora mesmo hackeando essa situação enquanto nós esperamos.
Mobilizando uma nação em instantes
Conhecida por sua merecida fama como nação digital, a estrutura digital da Estônia fornece uma plataforma flexível e segura durante uma pandemia, que se torna essencial para limitar o contato humano.
O que realmente nos surpreende é a rapidez com que todos se mobilizaram. Em uma semana, a Estônia foi de zero pacientes para 135 casos confirmados, preocupando seus líderes.
Na quinta-feira a noite, dia 12 de Março, o Ministro do Comércio Exterior e TIC, Kaimar Karu, compartilhou um apelo “use esta crise para ressurgir mais forte”. Com isso, a Estônia começou em 13 de Março a organizar seu Hack-a-thon, chamado de Hack the Crisis (HtC) e co-organizado pelas empresas Garage48 e Accelerate Estonia.
- 9h30: Uma comunidade de startups estonianas sugeriram o conceito do HtC.
- 10h: O Ministro Karu endossou o conceito e colocou todos em ação. A Accelerate Estônia foi responsável pela seleção dos parceiros
- 16:30: Lançamento do Hack-a-Thon. Durante 90 minutos, mais de 650 pessoas postaram 80 ideias para avaliação.
- Dois dias depois (15/03): 1.000 pessoas haviam participado e 30 grupos trabalhado apresentando soluções.
Houve uma mobilização nacional e um grande número de profissionais de TI, empresas e investidores se apresentou para tentar resolver a crise do Coronavírus na Estônia. Mikk Vainikk, chefe da Accelerate Estonia, explicou “A colaboração startup-governo está no DNA da nossa sociedade digital. Este é apenas outro exemplo, mas desta vez a resposta é mais viral do que o próprio problema, de 0 a 1000 participantes de 14 fuso-horários diferentes em apenas dois dias”.
Estônia lidera o caminho digital
No site do evento, é mostrado a mensagem “ESTAMOS IMPULSIONANDO A ESTÔNIA PARA NOVOS NÍVEIS! Agora é a principal hora para desenvolvimento de soluções, testes e lançamentos de idéias que ajudarão enfrentar esta crise e preparar a Estônia para essa situação”.
O HtC procurou protótipos de ideias durante 48 horas. A Accelerate Estonia vai patrocinar 5 ideias com 5.000 euros cada, para serem executadas durante os próximos dois meses. Já um Fundo de Impacto apoiará os projetos viáveis além destes dois meses.
E o que podemos aprender com os estonianos?
- 1º – A tecnologia já fornece ferramentas para ajudar a vencer esta adversidade. Todos nós devemos começar a experimentar. Esta mentalidade de startup é exatamente o que se precisa para transformar este desafio em oportunidade.
- 2º – Uma experimentação rápida por si só não é suficiente. É necessário instituições com capacidade de escala: grandes empresas, ONGs e governo. Enfrentar desafios de larga escala requer soluções de larga escala, e parceiros prontos e aptos a crescer.
- 3º – Em tempos de crise, as pessoas querem ajudar. Elas estão frequentemente procurando maneiras de contribuir com suas habilidades. Um desafio bem articulado e oportuno pode mobilizar recursos e talentos impressionantes. O ato de contribuir fornece aos indivíduos e grupos um senso de progresso e a liberdade de ajudar os desamparados.
- 4º – A transformação digital da Estônia, com todos os serviços fornecidos online nos últimos anos, coloca o país em uma melhor posição para enfrentar uma crise. A Estônia precisou de tempo e comprometimento para lidar com as interrupções de todas as reuniões pessoais, de locais e tarefas de trabalho, eventos esportivos, etc. Outras nações também devem seguir o mesmo caminho.
- 5º – É necessário nos reconstruir para enfrentar os desafios de toda a sociedade. Precisamos aprimorar nosso envolvimento do setor público-privado e defender mecanismos não-partidários de resposta nacional. Isso exigirá a recuperação do respeito mútuo entre instituições públicas e privadas, perdido nas últimas décadas.
- 6º – Vá trabalhar! Viljar Lubi, subsecretário de Desenvolvimento Econômico da Estônia, publicou: “temos duas opções: lutar ou fugir. Quando não há para onde correr e temos ferramentas para lutar, vamos fazer isso”. Cabe a cada um de nós como reagir a essa crise, individualmente e como comunidades, local e mundialmente.